Marido abandona esposa após 17 anos, mas sua reação o surpreende

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**Diário Pessoal**

Estava à janela, a observar as gotas de chuva escorrerem pelo vidro, formando padrões caprichosos. Dezassete anos — será muito ou pouco? Lembrava-me de cada dia do nosso casamento, cada aniversário, cada presente. E agora tudo desmorava-se.

“Precisamos de falar,” disse António.
“Vou-me embora, Leonor. Com a Beatriz.”

Silêncio. Apenas o tique-taque do relógio de parede, uma lembrança da minha mãe, quebrava a calma da sala.
“Com aquela aluna da tua faculdade?” A minha voz soou estranhamente serena.

“Sim. Compreende, os meus sentimentos mudaram. Quero emoções novas, impressões novas. És uma mulher inteligente, deves entender.”

Leonor sorriu.

“Tens a certeza?” perguntou.
“Claro,” disse António. “Já fiz as malas.”

Então, dirigiu-se ao armário e tirou a garrafa especial que guardavam para uma ocasião.

“Bem, suponho que este é um momento muito especial,” começou a desarrolhar a garrafa. “Sabes? Proponho um jantar de despedida. Convida os teus amigos, a tua família. Afinal, dezassete anos não é brincadeira.”

António ficou surpreendido:
“Tu queres… queres fazer uma festa para o nosso divórcio?”

“Por que não?” Leonor sorriu. “Vamos acabar a nossa vida a dois com estilo. Afinal, sou uma mulher inteligente, lembras-te?”

Começou a enviar mensagens a familiares e amigos.
“Amanhã às sete da noite. Vou preparar os teus pratos favoritos. Considera a minha despedida.”

António ficou parado, sem saber o que dizer. Esperava lágrimas, nervos, acusações — tudo menos esta aceitação tranquila.

“Ah, e diz à Beatriz que ela também está convidada. Quero conhecer a rapariga que conseguiu o que eu não consegui nestes anos todos: despertar algo novo em ti.”

No dia seguinte, Leonor acordou cedo demais.
Ligou cuidadosamente aos bancos, reuniu-se com o advogado e preparou os documentos. Tudo estava pronto.

Ao entardecer, o apartamento cheirava a pratos requintados. Leonor arrumou a mesa com a porcelana mais fina — um presente de casamento da sogra.

“Tem de estar tudo perfeito,” murmurou.

A sogra, Dona Isabel, abraçou-a com hesitação:
“Leonorzinha, talvez ainda haja uma maneira de mudar isto tudo?”

“Não, Mãe. Às vezes é preciso tomar a decisão certa e deixar ir.”

Lentamente, os amigos começaram a chegar.

“Entrem, sentem-se,” Leonor indicou-lhes os lugares à mesa. “Hoje, são os protagonistas da noite.”

Quando todos se sentaram, levantou-se, com uma taça na mão:

“Queridos amigos! Hoje é um dia especial. Estamos aqui para celebrar o fim de uma história e o começo de outra.”

Virou-se para António:
“António, quero agradecer-te pelos dezassete anos que passámos juntos. Pelos altos e baixos, pelas alegrias e tristezas que partilhámos. Ensinaste-me muitas coisas. Por exemplo, que o amor pode ter muitas formas.”

Um murmurinho desconfortável percorreu a sala. Beatriz remexia num guardanapo, evitando o olhar de todos.

“E também me ensinaste a prestar atenção aos detalhes,” Leonor continuou. “Especialmente os financeiros.”

Começou a espalhar os documentos:
“Aqui está o empréstimo do teu carro, feito em nome dos dois. Aqui estão os impostos em atraso da tua empresa. E isto — isto é especialmente interessante — são os recibos de restaurantes e ourivesarias no último ano. Suponho que querias impressionar a Beatriz.”

António empalideceu. Beatriz ergueu a cabeça bruscamente.

“Mas o mais importante,” Leonor disse, puxando o documento final, “é o nosso acordo pré-nupcial. Lembras-te de assinar sem ler? Há uma cláusula sobre a divisão de bens em caso de infidelidade.”

O silêncio na sala tornou-se ensurdecedor.

“O apartamento está no meu nome,” Leonor prosseguiu. “Já congelei as contas. E o pedido de divórcio foi entregue ontem.”

Virou-se para Beatriz:
“Querida, tens mesmo a certeza que queres ligar a tua vida a um homem sem casa, sem poupanças, mas com muitas dívidas?”

“Peço desculpa, tenho de ir,” disse Beatriz baixinho.

Dona Isabel abanou a cabeça:
“António, como pudeste? Nós eduquei-te melhor.”

“Mãe, não percebes…” António começou, mas o pai interrompeu:

“Não, filho, tu é que não percebes. Dezassete anos não é brincadeira. E tu estragaste tudo — por uma aventura com uma estudante?”

Os amigos mantinham-se calados, evitando olhar uns para os outros. Apenas o Miguel, o melhor amigo de António desde a escola, resmungou:
“António, realmente meteste-te numa alhada.”

Leonor manteve-se de pé, com a taça na mão.
“Sabes o que é mais engraçado? Todos estes anos pensei que o nosso amor era único. Que éramos como aqueles casais de contos de fadas que ficam juntos até ao fim. Ignorei as noites a trabalhar, as chamadas estranhas, os fatos e camisas novas.”

Bebeu um gole.

“E depois comecei a reparar nos recibos. Ourivesarias, o restaurante ‘Cisne Branco’, o spa… Engraçado, não é? Levaste-a aos mesmos sítios onde me levaste.”

Beatriz voltou, mas não se sentou. Ficou à porta, com a mala apertada.
“António, acho que precisamos de falar. A sós.”

“Claro, querida,” ele levantou-se, mas Leonor impediu-o com um gesto.

“Espera. Ainda não acabei. Lembras-te do nosso primeiro apartamento? Aquele T0 nos arredores? Éramos tão felizes lá. Disseste que não precisávamos de nada além um do outro.”

Sorriu.
“E agora olha para ti. Fatos caros, um carro de luxo, uma amante jovem… Mas eis o truque: tudo isto se sustenta em mentiras e dívidas.”

A voz de Beatriz tremia: “Disseste-me que estavas divorciado. Que vivias separado. Que ias comprar um apartamento para nós.”

“Beatriz, posso explicar.”

Um silêncio pesado encheu a sala. Sem dizer mais nada, Beatriz virou-se e saiu a correr do apartamento.

“Leonor,” António disse, segurando a cabeça. “Porque é que estás a fazer isto?”

“Porquê?” riu-se. “O que esperavas? Que chorasse e te implorasse para ficares? Que me arrastasse a teus pés?”

Olhou em redor.
“Sabes o que é mais engraçado? Eu amava-te verdadeiramente. Cada ruga, cada cabelo branco. Até o teu ressonar me parecia adorável. Estava pronta a envelhecer contigo, a criar netos.”

“Minha querida,” sussurrou Dona Isabel, “talvez não valha a pena.”

“Não, Mãe, vale,” Leonor ergueu a voz pela primeira vez naquela noite. “Que todos saibam. Que saibam como o teu filho contraiu empréstimos para comprar presentes às amantes. Como gastou o nosso dinheiro. Como mentiu a mim, a ti, a toda a gente.”

Espalhou outro documento:
“E isto é especialmente interessante. Lembras-te, António, há três meses pediste-me para assinar uns papE, enquanto a porta se fechava atrás de António, Leonor sorriu para o espelho, sabendo que, pela primeira vez em anos, estava livre para escrever sua própria história.

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